Por João Batista Passos
Antes de iniciar algumas observações sobre a sociedade brasileira, transcrevo a definição, simples, de “Alienação Social”, que está publicada no site www.significados.com.br: “A alienação social está relacionada com um estado mental do ser humano. Neste estado mental, ele não compreende que é o formador da sociedade e da política, e aceita tudo sem questionar. A alienação social incapacita o pensamento independente do ser humano, e ele passa a aceitar tudo como algo natural, racional ou divino”.
Entendendo que, escrever a partir das próprias concepções do mundo é um ato de filosofar, traço alguns comentários e questionamentos acerca da alienação social presente no Brasil.
No Brasil, a alienação abrange o pouco entendimento que o cidadão tem sobre política e a forma como a sociedade está organizada. Para chegar a esse ponto, é preciso que a qualidade da educação seja baixa, que o cidadão não consiga refletir sobre o “mundo” que o cerca e qual é o seu papel para torna-lo melhor. Formar cidadãos capazes de filosofar, cotidianamente, seria algo fundamental para a sociedade como um todo, uma vez que foi a filosofia que ajudou o ser humano a formar a sociedade em que vivemos hoje.
Existe hoje no Brasil uma falsa “briga” entre “Esquerda X Direita”, que contribui para alienação social. Briga travada por pessoas que não estudaram e nem refletiram o suficiente para entenderem o processo dinâmico que ajuda a formar a sociedade, sua economia e política. Quando estudaram, não estudaram toda a sua dimensão. A “Esquerda” brasileira é formada por partidos socialistas, comunistas e socialdemocratas, ao passo que a “Direita” deveria ser formada por partidos liberais, algo que, na prática, não existe no Brasil. O fato de não existir partidos de direita no país nos dá a dimensão do nível de alienação a que a nossa sociedade está submetida, principalmente quando quer debater “Esquerda X Direita” e o processo político do país. O que existe nas disputas eleitorais, ditas democráticas – mas que na prática não são -, é apenas a luta pelo poder.
Dito isso, vamos a algumas observações sobre a quem interessa a alienação da massa brasileira. Primeiro, vejo duas forças que, talvez de forma inconsciente, colaboram para essa alienação, uma classe “empresarial e política” (“direita”) e uma classe “mais política do que empresarial” (“esquerda”). Segundo, essas classes não analisam os riscos futuros de seus atos e agem de forma a corrigir problemas imediatos, principalmente politico-administrativos. Terceiro, ambas as classes, embora colaborem para o contrário, querem um país desenvolvido. Quarto, entre a “esquerda” e a “direita” existe a massa brasileira, composta pela maioria da população, que geralmente segue uma das tendências, defendendo-a de forma “cega”, sem ter as condições intelectuais necessárias para isso, pois a qualidade da educação, citada no 3º paragrafo, não é adequada.
O posicionamento dessas correntes de pensamento vem ajudando o Brasil a piorar. É impossível haver desenvolvimento sem produção, ao passo que é impossível haver produção sem pessoas dispostas a produzir. Tanto a “esquerda” como a “direita” deveriam se empenhar para criar uma sociedade produtiva e competitiva, uma sociedade composta por indivíduos dispostos a “crescer”. Mas, o que existe no Brasil, “o país do futuro”, é a criação de uma cultura de massa alienada, que não é preparada para o trabalho, não é preparada para a ciência e a inovação. Paramos no tempo. A educação, fator preponderante para o desenvolvimento, é de péssima qualidade. Não somos ensinados a pensar, a criticar. Somos ensinados a exigir direitos, sem a consciência de que existem deveres a cumprir.
E assim, esse caos de ideias e ideais, disseminados sem o devido amadurecimento, vai mantendo o Brasil como um dos países mais corruptos do mundo, afinal, em cada classe, seja “direita” ou “esquerda”, cada uma com suas contradições, vai prevalecendo os interesses individuais, enquanto a sociedade, a massa, vai se deteriorando.
Quando tivermos uma sociedade consciente, preparada para pensar e criticar, será mais difícil haver a dominação política, existente em todos os estados brasileiros, sendo que em muitas cidades/estados ainda reinam oligarquias. Quando tivermos uma sociedade consciente, preparada para pensar e criticar, haverá menos violência, menos adolescentes grávidas, mais tecnologia, menos pobreza, mais qualidade de vida, mais competitividade. Por fim, é necessário afirmar a importância da filosofia para entendermos o mundo que nos cerca. É fundamental o seu estudo nas escolas, sejam elas públicas ou privadas.
Mas, qual será o modelo político ideal?
Qual será o modelo econômico ideal?
Qual será o modelo educacional ideal?…
Para essas perguntas ainda não existem respostas, pois as teorias existentes são falhas, a educação não propõe aperfeiçoa-las e existem pessoas difundindo essas teorias falhas como se fossem perfeitas, verdadeiras e únicas.
Mas, ainda não foi respondida a pergunta fundamental deste texto: “A quem interessa a alienação?” Acredito que a alienação não interessa a nenhum dos setores discutidos, pois eles, embora colaborem com ela, não têm o devido conhecimento para saber que estão alienando. Mas, as discussões de novas ideias poderá propiciar um novo cenário. Para isso, precisamos de mais mentes pensantes, filósofos, que observem a sociedade e, sem paixões cegas, proponham novos caminhos.
Do jeito que está, cada grupo trabalha com o objetivo de piorar as coisas, pois, cada um procura, embora inconscientemente, alienar o maior número de pessoas, com o intuito de assumirem o poder e se manterem nele.
Publicado originalmente em 24/06/2014
Republicado (com algumas alterações na escrita) em 10/01/2021.